terça-feira, 23 de novembro de 2010

È bonita,é bonita ,e é bonita

Eu sei que eu sou adulta.Mas eu não sou perfeita não. E, como qualquer outro ser humano, eu preciso de carinho e de alguém que me cuide. E eu quero um cachorro, que lamba dos meus pés ao meu pescoço, que chore quando eu chego em casa e quando eu saio, como faz comigo o da minha avó. Eu quero um cachorro. E eu quero uma casa grande, e uma mesa de jantar, e uma janela que dê pra uma paisagem bonita e verde de cerrado, e uma varanda de flor. E eu quero prateleiras.... repletas dos meus livros mais coloridos... e tapetes com almofadas pra eu sentar com o computador enquanto eu escrevo meus textos....
Eu sei que eu sou adulta. Mas é que eu quero brincar de cozinha. E ter 1.793 potes com ervas, pimentas e massas de tamanhos diferentes. E quero testar o ponto daquele molho com aquele tomate especial que parece o da Itália. E eu quero uma porção de taças de peixes, não porque são chiques, mas porque eu acho lindas mesmo. E quero convidar meus amigos pra sentarem no chão, apesar dos sofás lindos.
E um dia eu também quero uma rede, e um ombro na rede. E uma voz grossa que vai chamar o cachorro. E um pé quentinho. E mãos pro dengo, pra bronca, pro anseio. Pra massa de pão no domingo. E boca pra opinião, pra calar, pra exigir, pro desejo. E vai ser tão bonito quanto as flores que eu vou escolher pra enfeitar as cabeceiras... E o sol vai nascer e se pôr comemorando cada momento sublime. De amor. E eu vou chorar porque vou me lembrar deste texto. E vou saber que foi assim porque eu desenhei e pedi. Como a gente faz quando tem 12 anos e desenha a bicicleta pra mãe.
E um dia vai chegar um bebê. Ou dois. E eu vou saber que ser mãe tem a ver com coisas que eu sequer vislumbro agora. E eu vou escrever sobre elas. Com um misto de encantamento, surpresa, devaneio, fantasia. E vai haver fraldas e colos e choros e noites sem dormir. E primeiro dia na escola, primeira briga no colégio, primeira lição difícil de aprender e de ensinar. E medo. Medo de deixar que a vida seja, por ela mesma, sozinha. E vai haver proteção. E apoio na queda. E queda. E a correção. De uma mãe.
E um dia, quando ele estiver bem crescido, vai haver um cinema. E um sorvete de tapioca, um colo, um cafuné e uma emoção. E eu vou lembrar deste texto. E, se Deus quiser, eu vou poder beijar tbém minha mãe. E vai haver cabelo branco, meu e dela, e perna cansada, e postura moída e, apesar do cuidado com a pele, rugas levinhas pra mostrar que crescer é a vida, que a gente pode brincar e fazer de conta o tempo inteiro que o tempo não tem pressa de passar. E que a gente pode andar de montanha russa de olhos fechados... quando a gente tem alguém em quem confia pra apertar a nossa mão.

[Ao meu modelo de mulher, minha mãe,
os meus desejos, os meus sonhos e a mais profunda gratidão.

Serendipities 

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